Imprevistos, redução da renda e descontrole orçamentário são as principais causas da inadimplência no país, apontam CNDL/SPC Brasil


Publicado em 19 de Junho de 2024.

A falta de organização financeira, impulsionada por fatores emocionais, também influencia o cenário

A alta inadimplência no país é um desafio para as famílias e para o poder público. Apesar do cenário econômico relativamente positivo, o número de consumidores com contas atrasadas no Brasil continua a crescer. De acordo com levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com a Offerwise Pesquisas, as principais causas da inadimplência foram os imprevistos de saúde, morte, manutenção da casa, carro, etc. (20%), a redução da renda (17%), a perda do controle do orçamento (16%), o aumento dos preços (14%) e o desemprego do entrevistado ou de algum membro da família (12%).

De acordo com os entrevistados, as contas que estão com o pagamento em atraso são: cartão de crédito (16%), conta de água e luz (12%), cheque especial (10%), crediário (10%) e empréstimo em banco ou financeira (9%).

Já entre os que estão com o pagamento em atraso e foram negativados as contas em atraso são: cartão de crédito (27%), empréstimo em banco ou financeira (18%), crediário (15%), de água e/ou luz (11%) e o cheque especial (10%).

“Nos últimos meses tivemos no país um aumento no número de pessoas que retornaram ao mercado de trabalho e com isso voltaram a ter acesso ao crédito, mas a renda do brasileiro ainda é fortemente impactada pela inflação. Dessa forma, o orçamento mensal fica comprometido sem que se tenha uma reserva de emergência”, destaca o presidente da CNDL, José César da Costa.

A falta de organização financeira, impulsionada por fatores emocionais, também influencia o cenário, uma vez que entre os que ficaram inadimplentes por descontrole do orçamento, 37% atribuem a tomada de crédito, pois dizem que queriam muito comprar algo e se esperassem sobrar dinheiro iria demorar muito, 30% não negociaram bem no momento da compra, 30% aproveitaram uma promoção sem avaliar o orçamento, 22% estavam tristes e acabaram comprando para se sentirem melhor e 22% estavam com baixa autoestima. 64% afirmam ter buscado ajuda para conseguir controlar suas finanças.

Além disso, nos últimos 3 meses anteriores à pesquisa, 45% adquiriram algo que sabiam que seria difícil de pagar, 37% fizeram compras sem considerar se conseguiriam ou não e 26% realizaram alguma compra sabendo que não conseguiriam pagar. Já 49% pegaram dinheiro emprestado nos últimos 12 meses, sem considerar as taxas que teriam que pagar.

Internet, telefone, água e luz são as principais contas com pagamento em dia

Em relação à prioridade no pagamento, os consumidores entrevistados admitem que os principais compromissos financeiros com o pagamento em dia são as contas de internet (66%), telefone (60%), água e luz (57%), TV por assinatura (50%), cartão de crédito (41%) e plano de saúde (41%).

Já os principais itens comprados no crédito sem pagamento foram: supermercado (42%), roupas, calçados e acessórios (35%), remédios (30%), eletrodomésticos (24%), eletrônicos (22%) e celular (22%).

“Os smartphones representaram uma transformação digital para os consumidores que têm nas mãos uma ferramenta de acesso à inúmeras publicidades que incentivam o consumo. Ter como prioridade o pagamento das contas de internet e celular mostra o poder e a importância dessas ferramentas na vida da população. O consumidor precisa ficar atento para não ceder aos impulsos de consumo online diante de tanta oferta de produtos, serviços e entretenimento”, afirma o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior.

Para 84% dos inadimplentes, quitar dívidas vai comprometer o pagamento de contas básicas como água e luz

Oito em cada dez inadimplentes (82%) afirmam que tem condições de pagar as dívidas nos próximos três meses, sendo que 49% pretendem quitar as pendências integralmente e 25% parcialmente. Por outro lado, 8% não têm condições de pagar suas dívidas nesse período.

As dívidas apresentam valor médio de R$ 4.748, sendo que 21% possuem dívidas entre R$ 2.500 e R$ 7.500 e 14% entre R$ 500 e R$ 1.000.

Chama a atenção que se 84% dos entrevistados quitassem todas as dívidas atrasadas, o pagamento das suas contas básicas como água, luz, telefone, alimentos e aluguel (se houver) estaria comprometido, seja totalmente (44%) ou parcialmente (39%).

Um quarto dos entrevistados (26%) afirmam ainda que as dívidas em atraso representam entre 25% e metade da sua renda mensal, enquanto 21% afirmam que representam entre metade e 75%.

Considerando aqueles que pretendem quitar total ou integralmente suas dívidas nos próximos três meses, 34% vão fazer cortes no orçamento para economizar, 28% pretendem fazer um acordo com o credor parcelando o valor, 28% vão fazer algum tipo de bico para gerar renda extra e 21% vai utilizar dinheiro extra de comissões, férias etc.

Aqueles que têm intenção de economizar para quitar suas dívidas devem cortar gastos principalmente com alimentação fora de casa e delivery (52%), vestuário e calçados (46%), lazer (46%), produtos de beleza (33%) e salão de beleza (32%).

Com relação às maiores dificuldades para quitar as dívidas atrasadas, 21% citam o fato de não ter de onde tirar dinheiro, 19% a queda de renda, 19% ter que deixar de comprar coisas básicas ao seu sustento e da família e 14% o desemprego. 63% desenvolveram um plano para pagar as dívidas e não conseguiram cumprir.

Perguntados sobre as consequências do não pagamento das dívidas, os entrevistados destacaram a negativação do nome (52%), o pagamento de taxas de juros mais altas (35%), a perda de crédito em lojas e bancos (32%) e a cobrança frequente por parte dos credores (29%).

76% tentaram negociar as dívidas, nove em cada dez receberam cobrança

Apesar da dificuldade em pagar as dívidas e manter as contas em dia, 76% dos entrevistados tentaram negociar sua dívida, sendo que 31% fizeram a negociação através do telefone, 24% do WhatsApp, 23% pessoalmente na empresa credora, 23% pelo site ou aplicativo da empresa credora e 21% através do Programa Desenrola Brasil. Por outro lado, 18% não tentaram negociar.

Oito em cada dez consumidores 88% se prepararam para a negociação, principalmente procurando informações sobre as formas de pagamento da dívida (34%), pesquisando o valor da dívida atual com juros e multas (30%) e revisando o orçamento para calcular as reais condições de pagamento (28%).

Em média, os consumidores inadimplentes tentaram negociar a dívida antes de pagá-la por 2 vezes.

De acordo com o levantamento, entre aqueles que tentaram negociar a dívida antes de pagá-la, 74% fizeram uma contraproposta, sendo que 32% sugeriram um número de parcelas diferente dos propostos, 29% sugeriram prazos de pagamento diferentes dos propostos e 26% sugeriram valores diferentes dos propostos. Já 26% não fizeram contraproposta.

A pesquisa aponta ainda que 90% dos entrevistados têm recebido cobrança para o pagamento das dívidas em atraso por parte dos credores, principalmente por e-mail (36%), SMS (32%), WhatsApp (30%) e mensagens gravadas ou conversas pelo telefone (25%). Apenas 8% não receberam nenhuma cobrança.

Os que foram cobrados, afirmaram que se sentiram constrangidos (35%), chateados (33%), pressionados (30%), angustiados (25%) e tristes (25%).

Metodologia

Público-alvo: Consumidores com contas em atraso há mais de 3 meses, de todas as capitais brasileiras, homens e mulheres, com idade igual ou maior a 18 anos, de todas as classes econômicas.

Método de coleta: pesquisa realizada via web e pós-ponderada por sexo, idade, estado, renda e escolaridade.

Tamanho amostral da Pesquisa: 624 casos, gerando uma margem de erro no geral de 3,92 p. p. para um intervalo de confiança a 95%.

Data de coleta dos dados:  18 a 27 de março de 2024.

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